domingo, novembro 29, 2020

As 3 "covids" do Papa Francisco. Grande artigo, vale a pena ler e meditar !

AS 3 "COVIDS" DO PAPA FRANCISCO ! 



"Sei por experiência própria como se sentem os pacientes que lutam para respirar"

As 3 covids do Papa Francisco: foi com a atual pandemia que o pontífice comparou três períodos árduos de doença e solidão que teve de enfrentar na vida e que lhe trouxeram aprendizados que ele julga transformadores. 

Francisco fala sobre essas três “situações-covid” num livro-entrevista que será publicado em dezembro, na Itália: “Ritorniamo a sognare” (“Voltemos a sonhar”). 

A obra é escrita em parceria com o jornalista Austen Ivereigh. O trecho da obra em que o Papa fala das suas “3 covids” foi antecipado pelo Vatican News.

1 – O período de doença

Francisco relata:

“Quando eu tinha 21 anos contraí uma doença muito grave, tive minha primeira experiência de limitação, dor e solidão. Mudaram minhas coordenadas. Durante meses eu não sabia quem eu era, se iria morrer ou viver. Mesmo os médicos não sabiam se eu conseguiria sobreviver. Lembro-me de um dia ter pedido a minha mãe, abraçando-a, para me dizer se eu ia morrer. Eu estava no segundo ano do seminário diocesano em Buenos Aires. Era 13 de agosto de 1957. Fui levado ao hospital ao constatarem que eu não tinha o tipo de gripe que é tratada com aspirina. Tiraram um litro e meio de água do meu pulmão. Depois lutei entre a vida e a morte. Em novembro, fiz uma cirurgia para remover o lobo superior direito do meu pulmão. Sei por experiência própria como se sentem os pacientes com coronavírus quando lutam para respirar em um respirador”.

O Papa relata que uma das enfermeiras era uma freira dominicana que tinha sido professora na Grécia. Quando o médico saiu da sala após o primeiro exame, essa freira mandou as outras enfermeiras dobrarem a dose do tratamento que o médico tinha prescrito, porque, por experiência, ela sabia que o jovem Bergoglio estava morrendo. Para o agora Papa Francisco, foi a irmã Cornelia quem salvou a sua vida:

“Graças ao contato habitual com os doentes, ela sabia mais do que o médico de que os pacientes precisavam. E ela teve a coragem de usar essa experiência”.

O remédio do silêncio

Outra enfermeira também lhe dava secretamente doses extras de calmantes. Francisco comenta:

“As pessoas vinham me visitar e me diziam que eu ficaria bem, que nunca mais sentiria toda aquela dor: palavras sem sentido e vazias, ditas com boas intenções, mas nunca chegaram ao meu coração. A pessoa que me tocou mais profundamente, com seu silêncio, foi uma das mulheres que marcaram a minha vida: a irmã María Dolores Tortolo, minha professora quando criança, que me preparou para minha Primeira Comunhão. Ela foi me visitar, pegou a minha mão, me deu um beijo e ficou em silêncio durante um longo tempo. Depois me disse: ‘Você está imitando Jesus’. Não precisava dizer mais nada. A presença dela, o seu silêncio, me deram um profundo consolo. Depois dessa experiência, eu tomei a decisão de falar o mínimo possível quando visito pessoas doentes. Eu só lhes dou a mão”.

2 – O período na Alemanha

Em 1986, o futuro Papa viveu o que chama de “covid do exílio”. Ele foi estudar alemão e procurar material para a sua tese, mas se sentia deslocado. Fazia caminhadas até o cemitério de Frankfurt e de lá via os aviões decolando e pousando, o que aumentava as saudades da Argentina. Seu país, aliás, ganhou a Copa do Mundo naquele ano, mas ninguém tocava no assunto com ele.

“Era a solidão de uma vitória sozinho, porque não tinha ninguém para compartilhá-la; a solidão de não fazer parte de nada, o que faz de você um estranho (…) Às vezes, o desenraizamento pode ser uma cura ou uma transformação radical”.

3 – O período em Córdoba

A terceira “covid” do Papa Francisco foi o seu período em Córdoba, na Argentina, de 1990 a 1992:

“Passei um ano, dez meses e treze dias naquela residência jesuíta. Celebrava a missa, confessava e oferecia direção espiritual, mas nunca saía de casa, exceto quando ia aos correios. Foi uma espécie de quarentena, de isolamento, como aconteceu com muitos de nós nos últimos meses, e me fez bem. Isso me levou a amadurecer ideias: eu escrevia e rezava muito. Até então, tinha tido uma vida ordenada na Companhia de Jesus, baseada na minha experiência primeiro como professor dos noviços e depois de governo a partir de 1973, quando fui nomeado provincial, até 1986, quando terminei meu mandato como reitor. Tinha me acomodado com aquele modo de vida. Mas um desenraizamento como aquele, em que você é mandado para algum lugar remoto e o colocam como professor substituto, abala tudo. Seus hábitos, seus reflexos comportamentais, suas linhas de referência cristalizadas ao longo do tempo, tudo isso se transformou, desapareceu, e você tem que aprender a viver novamente, a colocar a sua existência novamente em ordem”.

Naquele período, aliás, o futuro Papa leu os 37 volumes da longa “História dos Papas” escrita por Ludwig Pastor. Ele nem sonhava que um dia seria ele próprio o Papa:

“Poderia ter escolhido um romance, algo mais interessante. Pensando onde estou agora, me pergunto por que Deus me inspirou a ler exatamente aquela obra naquele momento. Com aquela vacina, o Senhor me preparou. Uma vez que se conhece aquela história, não há muito que possa surpreendê-lo sobre o que acontece na Cúria Romana e na Igreja de hoje. Me ajudou muito!”

Os frutos das “covids”

Francisco reflete sobre os aprendizados que esses períodos de doença e isolamento ao longo da vida lhe trouxeram: mais tolerância, compreensão, capacidade de perdoar; uma nova empatia com os fracos e indefesos; e “paciência, muita paciência”, que é o dom de entender que as coisas importantes precisam de tempo, já que a mudança é orgânica, enfrenta limites e é preciso “trabalhar dentro deles e ao mesmo tempo manter os olhos no horizonte, como Jesus”.

O Papa acrescenta:

“Aprendi a importância de ver o grande no pequeno e de ter cuidado com o pequeno nas coisas grandes. Foi um período de crescimento em muitos sentidos, como o brotar novamente após uma poda minuciosa”.

Ele finaliza observando que, mesmo depois dessa faxina e renovação, continua sendo necessário vigiar e cuidar para não voltar a cair nos erros de antes:

“Como diz Jesus, o diabo volta, vê a casa ‘varrida e adornada’ (Lucas 11, 25) e vai chamar outros sete espíritos piores que ele. É com isto que devo me preocupar agora na minha tarefa de governar a Igreja: não cair nos mesmos defeitos de quando eu era superior religioso. Aprendi que sofri muito, mas se você se deixar mudar, sairá melhor. Mas se, ao contrário, você levantar barreiras, sairá pior”.


sexta-feira, novembro 27, 2020

VALE A PENA LER: Mariana Sottomayor. Bióloga. Professora da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto... in Revista Sábado !

 

O rei vai nu, porra!! É preciso acordar e exigir aquilo a que temos direito! - Mariana Sottomayor - SÁBADO (sabado.pt)

O rei vai nu, porra!! É preciso acordar e exigir aquilo a que temos direito!

Esta pandemia tem-nos brindado com a mais requintada irracionalidade e logro generalizado por parte das autoridades sanitárias e políticas! Como se não estivesse em jogo a vida de muitos, em sentido literal e económico!
O rei vai nu - cena 1. As máscaras.

Recordemos.

Início da pandemia - decisão das autoridades sanitárias por decreto, porque sim, sem qualquer prova científica, que a COVID-19 não se transmite por aerossóis, só gotículas pesadas que caem no espaço de 1,5 m e contaminam objetos, que são, eles sim, o principal meio de contágio. É esta a informação ainda presente em cartazes da DGS colados em muitas paredes deste país. Como tal, as autoridades sanitárias decretaram que não havia qualquer necessidade de máscara, a distância física era largamente suficiente, e o importante era desinfetar freneticamente as mãos em toda e qualquer ocasião.

Problema 1. O SARS-CoV2, o vírus que provoca a COVID-19, é um vírus que ataca as vias respiratórias, informo para ser bem claro! Assim, a contaminação dos ditos objetos, contra a qual temos que estar continuamente precavidos, provém de onde?? Imagine-se, da boca e nariz de pessoas infetadas!!! É a ÚNICA, repito, a ÚNICA, proveniência possível, dado que o vírus não tem vida própria, só se multiplica dentro das vias respiratórias de um ser humano! Conclusão lógica: se todos usássemos máscara, deixaria de haver a suposta ameaçadora contaminação de objetos que foi decretada ser a principal via de contaminação!

Problema 2. Desde pelo menos fevereiro deste ano que havia artigos científicos a relatar contágio em restaurantes a distâncias muito superiores a 2 metros, em que um infetado tinha contagiado mais de 5 pessoas em 3 mesas diferentes, e a relatar a presença do vírus nas grelhas de ventilação de quartos de hospital de doentes infetados. Tal só podia ser explicado pela presença do famigerado SARS-CoV2 não em gotículas pesadas, mas em gotículas leves, chamadas aerossóis, que podem ficar a pairar no ar durante horas! Ora para uma situação destas, a única defesa com alguma eficácia é a máscara!

Note-se que o uso de máscara para evitar o contágio de uma doença respiratória é uma evidência que vai de si. É algo que sai do nariz e da boca de infetados e só infeta entrando pela boca e nariz do próximo. Tapando estas vias, o contágio cai abruptamente! De realçar que a máscara é especialmente eficiente para evitar que os positivos assintomáticos empestem o ar com o seu bafo contaminado, algo que continua a não ser devidamente explicado aos portugueses.

No entanto, apesar de toda a lógica de La Palice descrita acima, apesar da conta sanitária e económica brutal que se avolumava, passamos meses de recusa da utilização da máscara, num espetáculo de "o rei vai nu" como nunca vi na minha vida. E esperava nunca mais voltar a ver!!

Mas cá o temos novamente!!

O rei vai nu - cena 2. A hora do repasto.

Vencida a primeira vaga com o "milagre português", que não passou da sorte de o vírus ter chegado mais tarde ao nosso rincão português e termos confinado mais cedo na curva epidemiológica, fomos desconfinando. 

Mantendo o respeito generalizado pelas normas da DGS, ao contrário do que diz o Governo, com o seu discurso de culpabilização constante dos cidadãos, ao estilo de quem repreende crianças transgressoras! Porque o problema, mais uma vez, é uma falácia, um logro monumental da dupla DGS/Governo, que se pavoneia diante dos olhos de todos, ao melhor estilo do rei que exibe a sua nudez em cortejo público, convencendo os seu súbditos que só os falhos de inteligência não conseguem ver as suas vestes majestosas.

Note-se que a DGS e o Governo têm vivido em idílio amoroso toda este drama da pandemia. O Governo quer a Champions? A DGS - quantos mais vierem melhor! O Governo quer o Avante? A DGS - claro que sim, e as regras não são para ninguém conhecer! O Governo quer o Grande Prémio? A DGS - venha ele! O Governo quer as escolas e os restaurante abertos? A DGS - o vírus propaga-se pouco entre os jovens (o que é falso), e pode-se comer à vontade nos restaurantes! Onde chegamos à vaca fria. Mas já lá vamos, porque primeiro tem que ser feito o ponto, que é claro e evidente, à saciedade, que a DGS não é uma autoridade independente que dita as suas normas de acordo com princípios científicos de saúde pública, mas de acordo com as conveniências políticas do Governo. O que é uma receita para a desgraça, e uma desgraça brutal, em situação de pandemia!

Voltemos à história. Então, ultrapassada a primeira vaga, o Governo ficou repimpadamente à sombra da bananeira a ver o que acontecia. Fez-se um suposto plano de preparação para a segunda vaga que apareceu tarde e a más horas, e de quem nunca mais ninguém ouviu falar, e eis senão quando a curva exponencial dispara e nos deixa a todos em estado de choque, cidadãos comuns, serviços de saúde, Governo e DGS. Espanto? Não deveria haver nenhum, estava lá tudo para quem quisesse ver! A saber:


1) A COVID 19 é uma doença em que uma proporção muito elevada dos contaminados nunca chega a desenvolver sintomas, ou desenvolve apenas sintomas muito ligeiros, sendo, ainda assim, transmissor da doença. Algo que é particularmente preponderante nas crianças e jovens. Assim sendo, a doença é uma bomba-relógio, que pode disseminar-se silenciosamente na população durante meses, apenas aparecendo quando a pequena percentagem que desenvolve sintomas graves se torna visível. Ora, quando isso acontece, já a penetração na população é enorme e dificilmente controlável. Foi o que aconteceu na primeira vaga de Itália e Espanha, em que se chegou à conclusão que já haveria circulação do vírus desde Dezembro de 2019. E é o que estamos agora a viver!

2) A conclusão óbvia do FACTO explicado acima, repito, FACTO, é que não se pode baixar os braços, nem deixar portas abertas ao contágio do vírus. Ora foi exatamente o que aconteceu durante estes meses que vivemos postos em sossego após o desconfinamento de maio passado. Não porque não tivéssemos cumprido as regras da DGS, mas porque estas deixaram duas portas escancaradas para a circulação do vírus: a hora das refeições e as escolas

Senão, vejamos. Mandaram-nos andar todo o dia de máscara, em toda e qualquer situação, e continuar a desinfetar obsessivamente as mãos. Assim fizemos. E à hora do repasto? Permissão para frequentar restaurantes, refeitórios, cantinas, bares, salas de refeição, e comer sem máscara, convivendo em amena cavaqueira, a cuspir perdigotos na cara uns dos outros através de 80 cm de mesa, em espaços fechados, durante o tempo que aprouvesse. E assim fizemos. Almoça-se um dia com os colegas a.b, c, no dia seguinte com os colegas d, e, f, cujos maridos e mulheres fazem o mesmo com os seus colegas de trabalho, e assim sucessivamente, criando-se círculos de transmissão do Minho ao Algarve num piscar de olhos. Nas cantinas e refeitórios de empresas, situação semelhante. No fim de semana, para quem pode, vai-se com os amigos ao restaurante, cada fim de semana com amigos diferentes.  E nas escolas? Nas das crianças não se usa máscara, e nas dos adolescentes e jovens, estes usam a máscara na sala de aula, mas não a usam no exterior, no refeitório, ou quando vão ao McDonalds, e é sabido que estão sempre uns em cima dos outros, é uma lei de atração universal.

Tudo isto é uma receita infalível para a situação que estamos a viver! E continua a sê-lo, porque continua sem ser acautelado. Não podemos circular das 23h às 5h, nem aos fins de semana à tarde, o comércio tem os seus horários limitados e a cultura agoniza, mas podemos continuar a produzir nuvens de aerossóis prenhas de vírus em restaurantes, refeitórios, cantinas, bares e salas de refeições. Nuvens infetadas que podem permanecer horas no ar de ambientes fechados e viajam paulatinamente através de todo o espaço, não conhecendo fronteiras de distância, esqueçam os 2 metros de segurança.

O Governo contra-ataca assim com medidas cegas, que se baseiam na instauração de um clima de medo, e não com as medidas cirúrgicas que se impõem. Os jornais publicam que um estudo revelou que apenas 2% dos contágios acontecem comprovadamente nos restaurantes. Mas publicam também que se desconhece a origem de 80% das novas infeções! O que faz sentido, se elas ocorrerem em bares e restaurantes. Ninguém vai saber se algum dos comensais dos espaços que frequentou estava infetado. Invoca-se que uma % significativa de contágio ocorre nos locais de trabalho! Mas será que o contágio é quando estão a trabalhar, de máscara, cada um a fazer o que tem a fazer, ou é durante as pausas de café e para almoço? Sem máscara, em proximidade, e a conversar, atividade que faz soprar o ar através dos órgão vocais, projetando as gotículas respiratórias a maior distância e aumentado a proporção de aerossóis?

Estamos a viver a situação que merecemos, com clara responsabilidade da DGS e do Governo. Qual a solução? Temos que amputar o membro doente se queremos que o corpo sobreviva! É desumano? É! Mas vai salvar vidas, muitas, COVID e não COVID, que estas também estão sob ameaça feroz, e é, apesar de tudo, melhor do que voltarmos todos para casa! Por isso tem que ser! Temos que andar sempre de máscara sim, e quando temos mesmo que a tirar, para comer e beber, devemos fazê-lo em isolamento, ou ao ar livre e com distanciamento, ou, pelo menos, sem falar e bem distantes, e depois ventilar bem o espaço. Restaurantes, bares e espaços de refeições, só ao ar livre, com distanciamento, ou em regime de take away. Plantem-se mesas e bancos no exterior, as autarquias concedam licenças grátis para ocupação de espaços públicos ao ar livre, crie-se uma plataforma SOS Restauração para partilha e propagação de todas as ideias que possam ajudar esta atividade, mas é essencial proibir a socialização sem máscara, em espaços fechados, na hora do repasto.

E as escolas? Terá que se estudar caso a caso mas, em caso de rotura do sistema de saúde como ocorre neste momento no Norte, deveriam ser fechadas localmente, é uma medida de saúde pública óbvia. Tem também que ser devidamente explicado às famílias com membros em creches, infantários e escolas, que o risco de entrada do vírus no seu seio é elevado e que devem por isso tomar precauções redobradas em todas as outras circunstâncias. Não pode haver convívios familiares amplos, com amigos, ou quaisquer outras situações em que o vírus possa circular com facilidade.

Esta merda vai ter fim? Vai! Vêm aí vacinas, testes cada vez mais rápidos e mais baratos, novas terapias, testes diagnóstico para identificar quem são as pessoas com risco de contrair doença grave, e tudo o que a tecnologia super avançada que possuímos puder produzir, que é muito e diverso! Mas demora o seu tempo, e enquanto dura, esta merda mata de muitas formas e parece que nunca mais acaba! Por isso não é admissível a situação de conluio subserviente da DGS com o Governo, nem a incompetência e estupidez crassa de ambos! Meus caros concidadãos, o rei vai totalmente nu! Temos que ACORDAR e EXIGIR, por uma vez, a criação de uma equipa multidisciplinar e competente para a gestão da pandemia, que se invista na COMUNICAÇÃO e PREVENÇÃO, e que a SAÚDE seja reforçada como deve ser e não com remendos infames!

Mariana Sottomayor
Bióloga. Professora da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.

WHAT A VOICE ! AMAR !